23 de dezembro de 2006, eu subia um morro de uma comunidade do RJ, com minha equipe, para resgatarmos o corpo de um jovem que havia sido assassinado pelo tráfico.
Pois sou um agente da CORE. E entre as vielas pelas qual passávamos, de repente avistei um menino franzino, que aparentava não ter mais que 11 anos. Ele ao nos ver, tentou correr e em suas mãos parecia levar algo que a princípio julgamos ser uma arma.
O cercamos e ao me aproximar do mesmo, que estava hiper assustado, percebi que o que levava era uma sacola com um salgadinho e um pedaço de pão. Tentei acalmá-lo perguntando seu nome e ele me respondeu: “Meu nome é DI MENOR polícia” e com os olhos repletos de lágrimas pedia: Não me mata não! Passei a mão em sua cabeça e lhe disse:
Que isso garoto!
Somos seus amigos!
Amarre seu cadarço, se não você vai cair. Trêmulo, tentou amarrar o cadarço. Ao ver que não conseguia, me abaixei e o fiz para ele, enquanto apoiava uma das mãos em meu ombro. Perguntei onde morava e ele me apontou um barraco mais acima. E lhe disse: Vamos lá amiguinho, vou te levar em casa.
Ao chegar à casa do menino, encontrei uma senhora e mais quatro crianças menores que o menino Maicon.
Há, o nome do menino era Maicon!
Ao perguntar a ela, por que deixava o menino sair na comunidade num momento como esse, em que havia tiros a todo instante. Ela me respondeu da seguinte forma:
“Moço, dentro de nosso barraco eles não estão mais protegidos do que na rua" .
Pois não temos a proteção de seu colete que é a prova de balas e as paredes são de tábua. E foi para a rua, tentar conseguir algo para comermos, pois nada temos em casa. Ele trabalha no semáforo fazendo malabarismo. (Sem dar trégua para que eu retrucasse, como se eu tivesse algo para falar diante do que me falava, ela continuava falando sem parar).
Olha lá para baixo moço. Ver aqueles prédios de luxo? Pois é... Lá todos se preparam para o NATAL, fartura de comida, presentes e até papai Noel tem. E nenhum deles olha para cima. A não ser para reclamarem de Deus,mesmo com a barriga cheia, quando algo não dá certo.
Talvez se olhassem, nos veriam aqui nessa miséria. E lá moço mora justamente aqueles que deveriam olhar pela gente e buscarem para nós uma vida mais humana. Mas só sobem aqui em busca de voto, prometendo isso tudo. Sabe moço, não quero para meus filhos essa vida de tráfico, mas acho muito difícil mantê-los longe de onde vem o único socorro que conhecem.
Pois são os meninos do tráfico que às vezes nos ajudam. E como negar? Se não temos alternativa? Moço, somos os excluídos da sociedade! Neste momento ouvimos uns tiros e fomos em direção ao local. Mas as palavras da daquela senhora e o olhar do Maicon, não saiam de minha cabeça. Pois eu sabia que ela falava verdade no que tange o abandono por parte das autoridades. Mas o que eu podia fazer?
Ao acabar a operação fomos embora. Mas minha mente ficou naquela cena e o desabafo daquela senhora não saia de meus pensamentos! Fiquei tentando imaginar se MAICON não se envolveria com o crime, haja vista que tinha tudo para envolver-se com o tráfico, uma vez que a própria mãe, para justificar o abandono por parte das autoridades, enaltecia o tráfico, ao dizer que dele vinha o único socorro que conhece... E medida que pensava nisso, me sentia cada vez mais impotente e angustiado.
Em março de 2005 voltamos à mesma comunidade para conter uma guerra do tráfico e resgatar uma equipe de policiais que se encontrava encurralada. Já havia corpos de traficantes que foram mortos no tiroteio.
E o MAICON na época com seus 15 anos, infelizmente, estava entre eles.
Foi quando me lembrei da frase do CHICO XAVIER, onde ele dizia assim:
“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim".
Por isso, escrevo em meus jornais e site, matérias combatendo o tráfico, através da informação, tentando dessa forma orientar sobre os males que as drogas causam e por diversas vezes criticando a atuação daqueles que estão no poder e nada fazem para mudarmos esse quadro.
Foi a forma que encontrei para dar minha contribuição em busca de um NOVO FIM!
Pedro Chagas
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